No início, a LGPD foi recebida como uma tempestade anunciada. Consultorias venderam soluções milagrosas, empresas correram para preencher checklists e encher gavetas com políticas que nunca seriam lidas. O medo das multas foi o motor, mas o resultado, em grande parte, foi frágil: projetos superficiais, incapazes de gerar confiança ou valor estratégico.
Essa fase teve seu papel. Foi a infância da LGPD — cheia de tropeços, mas essencial para ensinar que proteção de dados não é burocracia: é estratégia. Hoje, sete anos depois, o Brasil amadurece. E com o amadurecimento, chegam novos desafios.

O dado como ouro… ou bomba-relógio
Dados deixaram de ser meros registros para se tornarem a moeda mais valiosa da economia digital. Nas mãos certas, são combustível para inovação, competitividade e crescimento. Nas mãos erradas — ou mal geridos — tornam-se passivos de alto risco, capazes de explodir reputações, corroer a confiança do mercado e gerar custos invisíveis que nenhuma planilha de Excel consegue mensurar.
E não é exagero. No primeiro semestre de 2025, o Brasil sofreu 314,8 bilhões de atividades maliciosas, segundo a Fortinet. Mega vazamentos e ataques cibernéticos já fazem parte do noticiário cotidiano. Somos um dos alvos prediletos dos cibercriminosos.
Proteção de dados e cibersegurança, antes vistas como trilhas paralelas, agora se fundem. Não basta ter políticas bonitas: é preciso demonstrar resiliência, com planos de resposta, métricas claras e governança real.
O mercado acordou
Boards e conselhos já não querem discursos sobre “boas práticas”. Querem números:
- – Quanto tempo levamos para responder a um incidente?
- – Qual a taxa de conformidade real por processo?
- – Onde está a base legal de cada dado tratado?
- – Quanto custa o risco de um projeto?
A resposta não pode ser “estamos adequados”. A resposta precisa ser “temos controle, rastreabilidade e governança”.
O DPO ganha protagonismo. Ele não é apenas guardião da lei, mas articulador cultural, estrategista de processos e tradutor entre tecnologia, jurídico e negócio. E os terceiros? Eles já não são apenas fornecedores: são extensões do perímetro corporativo, exigindo monitoramento constante e planos de ação colaborativos.
O desafio da IA: aliada ou ameaça?
A Inteligência Artificial generativa virou a “nova colega de trabalho” de muita gente. Ela escreve relatórios, analisa dados, organiza planilhas. Mas até onde é seguro compartilhar informações com essa colega? E quando essa colega não esquece nada e pode repetir tudo?
O Brasil ainda não possui uma regulação específica, o que abriu espaço para três tribos corporativas:
- As que proíbem totalmente o uso da IA.
- As que permitem, mas com limites claros.
- As que liberam sem qualquer critério.
A incoerência é gritante: queremos IA em todos os processos, mas não sabemos onde nossos dados estão sendo processados. É aqui que transparência, base legal e supervisão humana deixam de ser discurso e viram condições mínimas para escalar inovação.
O PL 2338/2023 surge como promessa de regulação, inspirado no modelo europeu, com foco em riscos e no ser humano como centro. A ANPD, que já amadureceu com a LGPD, é cotada para assumir também esse protagonismo.
Conclusão: a era da maturidade
A LGPD deixou de ser “o que não pode” para se tornar “como fazer do jeito certo”.
Deixou de ser custo para se tornar alicerce de confiança.
Deixou de ser regulatória para se tornar estratégica.
No palco global, proteção de dados não é luxo. É condição de sobrevivência e de competitividade. O futuro do Brasil será escrito não apenas em legislações, mas em métricas, práticas de governança e na cultura organizacional que escolhermos cultivar.O jogo mudou. A pergunta agora não é se a sua empresa está adequada. A pergunta é:
A sua empresa está pronta para competir num mercado em que confiança é o maior diferencial?
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